CARCINOMA ANAPLÁSICO DE TIREOIDE: RELATO DE CASO
Resumo
INTRODUÇÃO: O carcinoma anaplásico de tireoide é um tumor muito raro, constituindo cerca de 5 a 10% dos tumores de tireoide. Trata-se provavelmente do tumor sólido mais agressivo. O prognóstico é inexoravelmente fatal, com sobrevida média de 3 a 7 meses. As armas terapêuticas disponíveis são escassas e ineficazes.
CASO: R.F.A, 62 anos, branco, casado, procedente de Guarujá- SP, deu entrada no setor de endocrinologia em hospital de nível terciário, em abril de 2014, para investigação e conduta frente à aumento de nódulo em região cervical direita há um mês, com progressão rápida, associado a sudorese, fraqueza e calafrios. Constatou-se paciente com grande nódulo cervical direito ao exame físico, de consistência sólida, endurecido, fixo e indolor. Foi evidenciado em ultrassonografia cervical a presença de volumoso nódulo heterogêneo do lobo tireoidiano direito com 7,0x4,0 cm que ocupa todo lobo. Observado também outro nódulo regular e homogêneo em lobo esquerdo que mede 0,8x0,6cm. Devido alta suspeita de malignidade foi indicado tratamento cirúrgico: tireoidectomia total com consequente encaminhamento ao setor de oncologia do hospital. O anátomo patológico confirmou carcinoma pouco diferenciado com áreas sólidas e células anaplásicas. Tumor com 6,0x5,5 cm localizado em lobo tireoidiano direito e istmo, acompanhado de extensa necrose tumoral rica em neutrófilos e invasão vascular sanguínea. O imunohistoquimico apontou carcinoma pouco diferenciado, em nota foram descritas células foliculares com positividade para citoqueratinas AE1/AE3, e 34BE12, além de Tireoglobulina e TTF-1. As áreas pouco diferenciadas não mostraram positividade para estes marcadores, somente para vimentina e nem tampouco para outros de diferenciação heteróloga (muscular, vascular ou neural). O conjunto destes achados permitem o diagnóstico de carcinoma pouco diferenciado de tireoide. Já no setor de oncologia do hospital em outubro de 2014, foi prescrito o seguinte esquema terapêutico: dois ciclos de quimioterapia com doxorrubicina e cisplatina, seguido de 25 sessões de radioterapia hiperfracionada e por fim mais quatro ciclos de quimioterapia. Nessa época, o paciente apresentava PPS de 80%. Realizou rastreio de lesões a distância através de tomografias sem nada digno de nota. Novo rastreio de lesões e metástases foi realizado em dezembro de 2014, evidenciando em tomografia de crânio imagem nodular sugestiva de disseminação para Sistema Nervoso Central, suspeita esta confirmada pela ressonância nuclear magnética de encéfalo que evidenciou lesão expansiva em linha axial medindo cerca de 3,9x3,4cm, com edema vasogênico e efeito de massa causando desvio da linha média. Diminuto nódulo extra axial na região frontal esquerda projetando-se sobre o giro frontal inferior medindo 0,5cm. Frente à uma metástase cerebral, foi realizado em março de 2015, craniotomia frontal à direita com ressecção total do tumor sólido cístico seguida de radiocirurgia de consolidação. O anátomo patológico e imunohistoquímico da peça cirúrgica apontaram neoplasia maligna metastática com perfil imunohistoquímico inespecífico para sítio primário de origem e tipo histológico. Em abril de 2015 foi realizada ressonância nuclear magnética de encéfalo para avaliação da metástase cerebral pós cirúrgica e esta evidenciou persistência e progressão da lesão metastática, sendo contraindicada a continuidade do esquema terapêutico nos quatro últimos ciclos de quimioterápicos. Em julho de 2015, paciente queixava-se de dores ósseas de moderada intensidade, porém as tomografias solicitadas não detectaram novas lesões neoplásicas. Em agosto de 2016, paciente referia aumento de intensidade das dores ósseas, e realizou nova tomografia de abdome e pelve que mostrou lesão óssea de aspecto neoplásico no colo femoral esquerdo. Tomografia de tórax evidenciou nódulo pulmonar inespecífico em lobo superior esquerdo, e nódulos pulmonares calcificados residuais nos lobos superiores bilaterais. Na mesma época, paciente realizou dez sessões de radioterapia antiálgica. Novos exames de imagem foram solicitados para acompanhamento das lesões ósseas, e em dezembro de 2016, além da lesão em fêmur esquerdo, foi detectado nódulo no corpo vertebral da vértebra T8 compatível com metástase óssea. Frente às metástases ósseas, foi realizada a colocação de endoprótese ortopédica em quadril esquerdo. Nessa época, o PPS era 60%. Em fevereiro de 2017, além das metástases para pulmão, sistema nervoso central e ossos, paciente apresentou síndrome de compressão medular, limitando sua funcionalidade. Devido sobrevida inesperada do paciente e persistência dos nódulos pulmonares com coeficiente de atenuação de partes moles, persistência da lesão expansiva cerebral, persistência da lesão osteolítica em corpo vertebral T8, em porção lateral do 7º arco costal esquerdo, em arco posterior da vértebra L5 e em ossos da pelve, em abril de 2017, foi iniciada nova linha de quimioterapia paliativa com gencitabina e oxaliplatina, além do uso mensal de pamidronato.
CONCLUSÃO: O carcinoma anaplásico de tireoide é, ainda, um dos grandes desafios a serem suplantados por endocrinologistas, oncologistas e cirurgiões de cabeça e pescoço. Os protocolos já estudados não foram capazes de oferecer cura aos nossos pacientes, mas puderam, em alguns casos, prolongar suas sobrevidas. É importante assegurar que o manejo da dor e o controle de vias aéreas seja eficiente. Suporte emocional e acesso à equipe para cuidados paliativos também deve ser objetivado.
PALAVRAS-CHAVES: tireoide; câncer de tireoide; carcinoma anaplásico de tireoide; carcinoma pouco diferenciado de tireoide.
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