Avaliação de Distúrbios Neurocognitivos e Neuropsicológicos em pessoas vivendo com HIV por infecção perinatal: uma revisão sistemática
Resumo
A epidemia de HIV/AIDS, identificada nos anos 1980, trouxe grandes desafios à medicina, especialmente em relação ao manejo da infecção perinatal, que ocorre por transmissão vertical, de mãe para filho. A introdução da terapia antirretroviral (TARV) possibilitou um controle significativo da infecção, mas não eliminou as complicações a longo prazo, como os distúrbios neuropsicológicos e psiquiátricos que afetam pacientes que adquiriram o HIV por transmissão vertical. Transtornos psiquiátricos, incluindo depressão e ansiedade, são comuns nessa população e influenciam negativamente a adesão ao tratamento antirretroviral, prejudicando o prognóstico e a qualidade de vida. Portanto, a identificação precoce e o manejo integrado dos distúrbios neuropsiquiátricos são essenciais para o cuidado clínico de indivíduos com HIV.O objetivo deste trabalho é analisar os desfechos neurocognitivos e neuropsicológicos de PVHIV com transmissão vertical do vírus. A revisão sistemática foi realizada com a recuperação da literatura publicada até o dia 20 de abril de 2024, sem restrições de data. Quatro autores avaliaram de maneira independente, sendo incluídos estudos relevantes sobre o desfecho de ansiedade, depressão e distúrbios neurocognitivos. Seis estudos de coorte observacionais foram incluídos na revisão final com textos disponíveis na íntegra para leitura, extração de dados e síntese qualitativa. Os artigos analisados revelaram um perfil neurocognitivo deficitário e maior correlação com depressão e ansiedade, mas com algumas variáveis não correlacionadas.
Os desfechos reforçam a importância de integrar cuidados de saúde mental e tratamento do HIV para melhorar a adesão ao tratamento e os desfechos de saúde em populações infectadas perinatalmente. A heterogeneidade dos estudos impossibilitou a realização de metanálise e, em conjunto com a escassez de informações sobre o tema, reforça a necessidade de novos estudos para esclarecer as problemáticas acima citadas. As escalas utilizadas para avaliação dos desfechos incluíram a CES-D (Center for Epidemiologic Studies Depression Scale), uma escala amplamente utilizada para medir sintomas de depressão em estudos epidemiológicos; o CSI-4R (Child Symptom Inventory-4 Revised), utilizado para a identificação de sintomas psiquiátricos em crianças e adolescentes; e o YI-4R (Youth Inventory-4 Revised), uma versão complementar do CSI-4R focada em adolescentes, que avalia transtornos emocionais e comportamentais. A função cognitiva foi mensurada através de testes padronizados, com o uso de escores z (z-scores) por domínio, para comparar o desempenho cognitivo em relação à população normativa. O status de infecção pelo HIV foi categorizado de acordo com as definições do CDC (Centers for Disease Control and Prevention), que classificam a progressão da doença em função da contagem de células CD4 e manifestações clínicas associadas à infecção pelo HIV. Em suma, aplicação de ferramentas psicométricas robustas e avaliações neurocognitivas padronizadas evidencia a complexidade do manejo clínico de indivíduos com infecção por HIV adquirida por transmissão vertical. Esses achados destacam a imprescindibilidade de uma abordagem interdisciplinar, que integre cuidados de saúde mental e acompanhamento especializado em HIV, visando à otimização da adesão ao tratamento e à melhora dos desfechos clínicos e neuropsiquiátricos nessa população vulnerável.
Palavras-chave: Infecção perinatal, HIV, TARV, Ansiedade, Depressão, Neurocognitivos
Apontamentos
- Não há apontamentos.